Da ponte pra cá

Da ponte pra cá

Saturday, June 29, 2013

O tempo não passa

Bastante tempo longe daqui. Sinto-me como se tivesse prometido atualizações das aventuras em série na minha viagem e que não fui capaz de cumprir. Mentira. Sinto-me como se tivesse prometido deixar todos atualizados com meu dia-a-dia e como isso soa, agora, ridículo. Não faz o menor sentido expor como num diário, usando palavras interessantes pra fazer minha viagem pessoal, algo de interesse público. De agora em diante usarei mais como diário de ideias, inconformidades e expressões do meu Karma Yoga. Sem desventuras. Talvez. O melhor de ter o blog em minha total manifestação de expressão é que posso me indignar com minhas ideias, revê-las, achar idiota e mudar o tempo todo. O volúvel me liberta e o volátil me expande.
Minha viagem para Dharamsala começou cerca de uma semana antes da verdadeira partida em cinco de junho de 13. Antes do final de maio havia um grande sentimento de decepção pairando minha percepção de realidade. Não fazia sentido ter vindo a Rishikesh. Vim buscando algo que vi ser impossível alcançar. Chegar ao país com o orçamento curto e esperando boas ações ou um efeito de uma causa bem feita não parecia ser possível.
O meu primeiro contato com o Yoga por aqui foi no ashram que estou morando. Um jovem com seus 20 e poucos anos é nosso mestre. Não pela idade que tem, mas talvez esse fato tenha influência grande na sua personalidade. O ego vive nele um pedaço grande da sua rotina. Uma aula cheia de Asanas (posturas do Yoga) e uma ininterrupta vibração sonora causada pela sua boca que nunca fecha. Impossível fazer yoga dessa forma. Me sinto numa aula de ginástica. Havia começado, como disse noutro post, estudar com um professor de 105 anos. A aula é limitada, também, pois além de gratuita, não existem muitos alunos atraídos pela experiência do Swami Yogi Nanda, logo a evolução das classes são estáticas, logo não existe. O que fazer agora? Sem dinheiro suficiente para pagar um curso, sem aulas gratuitas boas o suficiente e com a temporada de Yoga acabando em Rishikesh (como a chegada da Monção – época de chuvas – todos se dirigem ao extremo norte –  Yamunotri, Gangotri, Badrinath, Kedarnath e Algumas outras cidades ao redor como Dharamsala) a certeza de começar o estudo por conta própria estava clara em meus planos. Mas as concomitâncias estão ai para provar se você esta disposto a enfrentar toda a Maia que lhe é oferecida. E parece que estou, sim. (numa próxima oportunidade falo sobre Maia)
Dia 02 de Junho estava desolado com o fato de ter conhecido uma belíssima jovem norte americana, minha vizinha. Desolado porque, além do álcool e das drogas, as mulheres estavam nos planos de interrompimento pleno e, estava difícil parar de pensar nela. Decidi tentar dormir, mas como era muito cedo, preferi tomar um chá na companhia de Ajay. Cheguei a sua loja e ali ficamos conversando sobre esses desvios de foco, disfarçados de oportunidade de prazer que aparecem o tempo todo. Mulheres! Maior distração na vida de um homem (comentário chauvinista, mas que me parece tão prudente ultimamente. Peço desculpas caso tenha ofendido alguma mulher) Ali estava eu sentado e refletindo sobre o fato de não poder fazer Yoga Swami Tilak Ram. Professor de diversas artes que eu havia conhecido poucos dias antes na mesma loja. Com versávamos sobre o curso que ele estava preparando ministrar em Dharamsala, de Yoga. Hatha, Iyengar, Ashtanga e Anatomia do Yoga. 50K Rupias, algo como 1k US$. Mais do que eu trouxe comigo para viver seis meses. A conversa com Ajay fluía entre a decepção de não controlar meus impulsos masculinos, minha falta de atitude com a norte-americana (me reservei no direito de não citar seu nome), sim, pois apesar de saber que eu precisava me afastar, ao mesmo tempo eu queria muito ter algo com ela, mas me sentia petrificado e não fazia nada. Conflito duplamente perturbador. E ainda restava o verdadeiro problema que era não poder fazer o curso. Eis que Tilak chega e se junta a mim, na mesa para um chá. Começamos ali uma conversa que não havíamos tido na primeira vez que nos falamos. Falei sobre como conheci o Yoga, sobre meu casamento, sobre drogas, sexo, minhas desresponsabilidades e sobre meu momento. Foi um desague instantâneo que surgiu com as mais sinceras explanações. Sem que eu pedisse nada ou desse a entender algum pedido ele ofereceu o curso pra mim sem custo. E disse que, no dia que eu conquistar aquilo que estou buscando, que eu pagasse da forma que visse mais conveniente. Mas antes precisava falar com seu sócio, Prakash, a respeito. Dois dias depois Prakash veio me procurar e nosso “acordo” estava firmado. Dia seguinte (5 de junho) estávamos seguindo para Dharamsala para começar meu intensivo de Yoga e tudo começava se mostrar cada dia mais claro.
Dei adeus à minha platônica paixão instantânea e caminhei para a minha libertação. Dharamsala estava somente a 400km de Rishikesh e por volta das 3pm pegamos o barco para atravessar o ganga com toda minha parafernália incrivelmente pesada sentido a estação de ônibus. Cerca de 15 horas de ônibus de viagem (apesar da pequena distancia, a cidade é em alta atitude e, além de estradas estreitas, chovia muito), exaustos, caminhávamos em direção ao hotel onde estava nosso Yoga Hall. Prakash e eu ficamos algumas horas conversando acompanhados de alguns chás e biscoitos e voltei a ter algumas conversas sobre meu passado mal resolvido. Ele me disse algumas verdades (as quais eu já sabia), mas que precisava ouvir pelo ouvido. Fui até a lan house da cidade e enviei alguns e-mails na tentativa de tentar recomeços. Toneladas mais leve, agora começo a pensar melhor.
Fizemos um reconhecimento da área e voltei ao Hotel para descansar, pois o Yoga começaria dia seguinte. Por hora aqui me permito terminar. Meus relatos serão cada vez mais breves e sucintos com os pedaços dos momentos mais importantes. Sem extravagancias nem enfloramentos, mas exponentes acontecimentos que andam a girar a chave do processo de mudança.
E se você não entendeu é porque ‘’uma vez mais sua volta será necessária pra ver se deixa tudo pelo menos no empate, ou zerado. A frequência desse pensamento não pode ser captada com perfeição com receptor enferrujado pelos padrões do dia-a-dia. ’’


"Da matéria procuro me desvincular cada vez mais. Desapegar. Usar somente o necessário pra passar. Pois quando menos se espera vem mais uma despedida do planeta terra. "


Frases de Bnegao, se vc nao conhece, favor conhecer e, voce pode baixar este lindo album aqui no site do meu amigo batata -->http://polissonico.blogspot.in/2011/02/bnegao-e-os-seletores-de-frequencia.html



Black Tea with Waterfall


Minha vizinha em Dharamsala


E a Lua


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