Da ponte pra cá

Da ponte pra cá

Friday, May 31, 2013

Anticorpos. Ajudem-me!

          Já faz quase 3 semanas desde que coloquei meus pequenos pés na Índia e, desde então muito aconteceu. Toda a viagem foi bastante planejada (mentira) e tudo está mudando conforme os dias vão se passando. Verdade que eu vim pra cá com a intenção de ficar até outubro em Rishikesh. Só estudando Yoga. Mas a vida não permite planos tão austéros como este. Ao final do mes de junho estou indo, com um espanhol e um italiano para Amiristar. Ficaremos no Golden Temple, da religião Sikh (a qual o espanhol Ivan, pertence). Acho que ali fico um ou dois meses (com hospedagem e alimentação sem custo) trabalhando e ajudando todas as pessoas que ali visitam. É um lugar enorme que recebe pessoas do mundo inteiro e que precisa de voluntários para servir os que ali pedem comida, limpar enfim...

http://pt.wikipedia.org/wiki/Harmandir_Sahib




          E como os planos nem sempre estão de acordo com a realidade, provavelmente voltarei de Amirstar para o Nordeste da Índia em direção ao Nepal. Meu visto me obriga a sair do país com 90 dias de estada aqui, mesmo eu tenho o visto para 180 dias (uma burocracia sem sentido). 

          
          Algo que realmente tem mudado bastante aqui dia após dia é minha saúde. Percebo vários alarmes devido alterações no clima, na minha alimentação e rotinas. Nos primeiros dias tive uma recaída, talvez por água contaminada no gelo de um suco. Foram 5 dias sofridos onde visitei o banheiro mais vezes que tomei banho no Ganga. Agora, depois de alguns graus caídos na temperatura normal (40 graus no horário mais quente do dia) peguei uma gripe como muito não havia sentido. Na verdade alguns dias antes de eu viajar eu havia pego uma gripe pior que que estou agora, mas tomei tantos antibióticos que curei rápido. No momento estou numa 'dieta' natural e experimentando remédios ayurvédicos na tentativa de manter o corpo em ordem somente com o natural. Tirei os banhos diários no ganga, do cardápio e estou tendo que tomar banhos quentes (algo que não estava fazendo desde que cheguei).

          De qualquer forma, mesmo com dores de cabeça, garganta infeccionada e muita secreção, essa é a melhor gripe que eu já tive. A mais feliz. Não me contenho de tanta alegria quando espirro (mentira). Meu corpo sofre, mas eu não. Tenho plena convicção dos meus desejos, mesmo sabendo que não sei de nada e minha mente esta se mostrando cada vez mais forte com todos os exercícios de meditação e asanas combinados. Darei uma trega ao blog para me dedicar a minha cura corporal e preparar mais ainda meu estado de consciencia pelas aventuras que estão por vir.

          Deixo mais uma música, que já havia composto antes de sair do Brasil, mas que gravei só agora =)


          Nada é acaso, né. Namaste
Incenso modelável e umas malas iluminadas

Wednesday, May 29, 2013

Fazendo tudo errado

            Voltando aqui, mas sem muitas novidades. Fiz uma música nova e gravei no Beatles Ashram. Aliás que gravei uma porção com 6 músicas. Das 6 só essa é nova e ainda espero conseguir subir as outras no youtube algum dia. A conexão aqui realmente não é das mais velozes e às vezes demora mais de duas horas pra subir um vidinho pequeno. Um dos meus amigos no ashram (Daniel - Cidade do México), que toca violino, tem um gravador digital e estamos programando gravar alguns sons depois de algum tempinho de ensaio, compartilho com voces. Por agora, posto aqui a música nova e a letra segue abaixo.

            Deixem opiniões se possível pra ajudar o amigo a ficar motivado (ou não)




Tudo o que voce quiser, tem que se parecer com aquilo que vc não tem
E como já disse alguém: Sanidade e felicidade são impossíveis combinações

Almejou sabe-se lá o que, mas com tanta vontade. Desesperado se acalmou.
Fugiu do próprio paradigma, criou em si uns bons conceitos e foi filosofando
E quando viu que estava errado, foi então que se acreditou.
            Namaste =)

            

Friday, May 24, 2013

Cachoeirando

19/05/2013



Noite complicada de novo. Parece que meu relógio biológico está me dando uma colher de chá enquanto estou na rua, mas basta chegar no quarto e tentar dormir que começa a febre e volto a ter complicações estomacais/intestinais. Muitas cólicas durante a noite e todo o bololo volta a me torturar. Consigo acordar cedo para o yoga, mas muito fraco. Acho que perdi muito peso, talvez uns 4 ou 5 kilos nítidos. Mas tenho uma manhã tranquila e, como havia comprado uma melancia no dia anterior, e já tinha deixado na geladeira do ashram, mais 2 mangas e está tomado o café da manhã 
São 11am e chego na Magical. Cachoeira que, como o nome sugere, tem uma visão deslumbrante. São várias pequenas quedas, muito altas, dando tons a vários mini-arco-íris em meio a muita mata, muito verde. O eco-sistema ali é muito vivo e muitas plantas se acumulam por muitas rochas, que aparentam milhares de anos ali. Lindo demais. Fico ali duas horas até chegar um casal de alemães que também estão hospedados no mesmo lugar que eu. Já estou saindo e Hegel, me diz que ali ainda tem um 'segundo andar' para ser visitado. Um mezanino de pedra que forma uma poça pequena de água da o toque de espaço para meditação. É tudo muito mágico, mesmo. Me sinto numa mistura de 'Senhor dos anéis' com 'Avatar'. Mas decidido a procurar uma cachoeira maior, onde eu possa nadar, vou embora de lá e vou almoçar no mesmo lugar da janta de ontem.





Já por volta das 2 pm como uma salada e Veg Kafta. Bolinhos fritos, imersos num molho delicioso, que não sei explicar ainda qual gosto tem. Não entendo muito bem do que é feito, mas ainda assim é delicioso. O dono do local me diz para seguir mais 2 km até o próximo vilarejo que verei a entrada da cachoeira. Desta vex administrada pelo governo e preciso pagar 30 rúpias para acessá-la. Existe uma 'estradinha' que posso subir de scooter. Apenas 1 km subindo já encontro a entrada. Mas decido subir ainda mais. É uma grande montanha e como todas montanhas aqui, parece não ter fim. Já estou acelerando 30 minutos e não chego a lugar nenhum. Mas tenho que subir com muita prudencia, pois ali não há muita segurança nem uma estrada transitável confiável. Muitas pedras no caminho me fazem crer que ali não tem civilização. Ledo engano. A cada 5 minutos de subida encontro uma pequena casinha e pessoas subindo a pé, carregando água ou pedras, areia. Acho que ali está crescendo uma nova comunidade.
Encontro um cachorro no caminho, que parece cansado, com a língua pra fora. Resolvo me aproximar e fazer amizade. Percebo nele uma infinidade de carrapatos no pobre coitado e, tento tirar alguns maiores em lugares que parecem estar atrapalhando mais, como na boca, olho e orelha. Com a mesma vontade de aniquilar carrapatos que existe na minha mãe, tiro um do ouvido do cão e esmago com uma pedra. Todo o sangue do nojentão voa diretamente no meu olho. Mas como se ele tivesse preparado para morrer me atacando. Um carrapato kamikazi, mas sem o suicídio. Acho que ele está rindo além túmulo. Desesperado e com o olho cheio de sangue dou uma bela cusparada na minha mão para lavar o sangue. Olho no espelho retrovisor da scooter e estou parecendo um hemorrágico. Tirando a cena thriller, fecho o olho e sigo retornando à cachoeira para lavar aquela nojeira. Encontro antes uma saída de água de uma rocha, me lavo e acaba-se o problema.

São 3h30 e encontro a primeira queda d'água. São várias, na verdade. Pequenas quedas que formam diversas poças para banho. Todas estratégicamente controladas com alguns sacos de areia para não dar vasão total à água levando todo mundo morro abaixo. Fico ali alguns minutos e percebo que ainda existe outro lugar para visitar, já que vejo umas 10 ou 15 pessoas voltando de uma parte mais alta. Existe ainda uma escada para subir (mais 500m conforme a placa) e resolvo subir. No caminho encontro um visitante estrangeiro que me informa haver outro pequeno lago mais acima e que, se eu escalar uma pequena rocha encontrarei uma piscina natural. Fato. Existe uma queda ainda mais acima que torna o passeio mais válido ainda. Quando acho estar sozinho e penso em relaxar para tentar uma meditação ou somente ficar observando a água caindo, aparece um menino com seus 8 anos, gritando. Com uma garrafa de coca-cola na mão ele anuncia: ''Just one, please!?'' Tomo um susto e escorrego, caindo na piscina. Ainda bem que ali havia só água. Muita insistencia e depois de ouvir vários nãos, o menino desce, mas com olhar de que me espera lá embaixo pra alguma nova oferta. Resolvo ceder e aceito um miojo feito na hora (Maggi). Antes de descer, já bastante cansado do sol intenso e da mochila (sempre pesada), desço com menos atenção e, logo que a alça da bolsa arrebenta, escorrego e saio da piscina de bunda pela rocha. Algumas escoriações novas e aquela cara de quem não está com dor, como meu miojo quietinho e sentado no sol. As crianças ao redor não param de me rodear, gritando e tentando vender-me snacks e refrigerante a todo custo. Compro um biscoito de chocolate e distribuo entre os garotos que, agora pedem para tirar fotos.





Volto ao restaurante bangalo e dessa vez peço um pequeno prato que não sei muito bem o que é, mas também não é nada demais. Chegam ali 7 homens, que se apresentam pra mim com bastante alegria.O dono do lugar me pergunta: "Chilian?" Algo como "Fuma um com a gente?". Respondo que não, mas que não me importo se eles fumarem ali.Um deles veste uma camiseta do Che Guevara, mas acho que ele não sabe quem é. Ele não fala ingles então não damos muita enfase na camiseta. Eles pedem que eu me dirija até o fim da loja, se amontoam uns no outro. Um deles chega a jogar sua perna sobre a minha e descansa com muita naturalidade. Aqui é muito comum haver bastante carinho entre os homens. Talvez pela supreção machista e não haver muitos homens conversando com mulheres, eles trocam carinhos e afetos (de maneira sempre muito amigável e às vezes até infantil) entre homens. É bem normal e fico feliz pois me comunico com meus amigos dessa forma (aliás um beijo grande pro Wills, Giuli, Bruxão, Cavete, Serj, Monminha, Sunguera, James, Diego e John...saudades). Eles preparam o cachimbo com Haxixe do Nepal e começam a fumar. Toda aquela fumaça toma o lugar e depois de muito insistirem, aceito dar um pega. Nunca me senti daquela forma. A famosa 'paulada' que achei já ter levado algum dia é superada em milhões de vezes e acredito que vou passar mal. Saio de mim, sinto-me num transe. A sensação é de que estou tirando pedaços do corpo. Me desfazendo começando pela cabeça. A brisa é rápida. Cerca de 10 minutos depois do único trago já me sinto melhor. Foi uma brisa ruim. Senti medo e um pouco eufórico. Talvez porque estou sem fumar faz tempo ou porque estava cansado e ainda não melhorei da barriga, não sei. Mas decido ali que não vou mais abrir mão da decisão de ficar clean o tempo todo aqui.

Já são 9pm e me lembro que precisava ter devolvido a scooter até às 7pm. Terei de pagar nova diária, então resolvo ficar com a moto mais um dia. Dessa vez combino com Cátia, Hegel e Shiring (meus amigos do ashram) de ir até a cachoeira pela manhã para aproveitarmos melhor o tempo.
Hoje durmo mais cedo e levanto mais cedo pela manhã. Acordo ainda atordoado da noite anterior. Uma ressaca de fumo. Meu corpo ainda é fraco e não pratico ioga novamente. Fazemos o desjejum no mesmo restaurante e ficamos na cachoeira até 4pm. Me sinto mal novamente e decido dormir até 6pm para devolver a moto. Hegel me acompanha com sua scooter até a agencia para devolver a moto e, após uma pequena discussão com o rapaz da loja (que queria me converser que eu não havia pago a primeira diária) volto ao ashram para dormir até o dia seguinte e tirar o dia de folga para tentar, por vez ficar bom do corpo. Ledo engano.
Namaste

Dia de Templos



18/05/2013

Foi uma tarefa dificil, a de dormir essa noite, mas ok…estou vivendo de novo. Ainda com resquicios de um estomago fraco decidi fazer uma dieta em frutas e iogurt (curd, um iogurt diferente do industrial comum no brasil. Algo como algumas etapas antes do processo final do iogurt comum) e bastante agua. Encontrei Ben e Kilian arrumando seu quarto pela manha e ficamos de nos encontrar por volta da hora do almoco para irmos a cachoeira, como havia dito. Mas depois do almoco, optei pela soneca. Que durou ate quase 7h pm. Precisava desse sono. Sem visitas ao banheiro, acho que estou melhor. Por via das duvidas ainda mantenho minha dieta light. Saio em direcao ao Mercado e compro algumas mangas. Compro tambem um Loong, uma especie de saiote que e bastante comum aqui. Um pano leve, que e enrolado ao corpo com uma amarra especifica e que cai sob o corpo como uma toalha folgada. Mutio confortavel e com certeza sera meu uniforme de agora em diante. Comprei um laranja (tudo aqui eh muito laranja) e amanha, se eu estiver mais vivo vou a cidade procurar por mais cores. 
Motoqueiro

Tento acordar cedo, mas ainda não tenho força sufiente pra praticar ioga. Decido tentar, chego às 08:45am no Ioga Hole e me dou conta que domingo não há aulas. Ja sabia disso, mas havia me esquecido. Fico até aliviado. Tomo um banho frio, me sinto melhor e resolvo ir em busca de aventura.
Primeiro dia motorizado…não é bem uma kawazaki ninja, mas uma scooter funciona muito bem por aqui. São 12am e vou enxer o tanque com incriveis 4 litros de petróleo (sim, é o que está escrito na bomba de combustível). Antes de ir direto às cachoeiras, resolvo fazer um overview do lugar e pego a primeira estradinha, que sobe um das milhares de montanhas aqui em Rishkesh. Do outro lado do Ganga, ao qual estou hospedado. Muitas árvores ao redor, um caminho bastante sinuozo, várias curvas, mas com asfalto razoável e, apesar de subidas bastante imgremes, nada impede a scooter de realizar o trajeto com mastría e delicadeza, afinal é uma scooter, então consegue ser delicada naturalmente.




Já se passaram 1h40 minutos acelerando minha motoneta e percebo que, depois de 40km não cheguei a lugar nenhum, mas continuo subindo. Acredito estar indo em direção ao norte, mas só acredito, porque não tenho bússola e se tivesse, não saberia usá-la. Avisto algumas placas de um hotel de luxo, chamado Hotel Romance. Algo direcionado para casais em lua-de-meu ou amores parecidos, e alguns novos kilometros à frente chego ao ninho de amor indiano. Resolvo entrar no local para conseguir informaççoes sobre o local. Não estou procurando nada específico, mas pergunto sobre informações de pontos aos quais posso visitor. Um primeiro homem, muito simpático, porém que não fala ingles, me pede para esperar. Logo chega um rapaz com roupa social (num incrível calor de 40 graus), super simpático e convidativo e me diz que por ali não há cachoeiras, como eu pergunto, mas sim um templo muito sagrado, cerca de 5 kilometros dali. Agradeço a gentil informação e ele me convida para um chá, refrigerante ou água. Agradeço novamente a gentileza, mas prefiro tomar meu rumo ao templo. O caminho até a entrada do lugar é incrivel. Muitos metros acima do nível do mar e meus ouvidos começam a estalar. Mesma sensação que sinto quando estou subindo a serra para voltar à São Paulo, do litoral.

Estacionado meu jatinho particular no final da ‘rua’, no final da montanha. Agora somente 400 degraus me separam do templo. QUATROCENTOS DEGRAUS!!!. Pode não parecer, mas rodar 60 km de scooter, numa subida não é a coisa menos cansativa que existe pra se fazer. Minha pequenina bundinha já assumiu o formato retangular e, aliviado saio da moto pensando em voltar a pé. Mas logo lembro do trajeto e penso diferente em instantes. Paro de subir a escada umas 4, 5 vezes antes de chegar ao pequenino templo. São vários sinos pendurados no caminho, que descubro mais tarde, serem para ser tocados quando passados. Tiro meu tenis, aliviado, e entro no templo com cheiro de velas queimadas e queimando, um misto de perfumes baratos e incensos doces. O Aspecto do lugar me lembra muito à de terreiros de umbanda. Os de linha de esquerda, que aliás frequentei por um pequeno período. Existem, inclusive, alguns artigos bastante parecidos com os da religião afro-brasileira, como tritões e tigelas com oferendas, mas nada de origem animal ou com sangue. Existe muita comida e dinheiro como oferta dos fiéis. Deixo ali cerca de 1 dollar (50 rupias) e um senhor vestido de branco, que parece ser uma espécie de sacerdote do templo pinta em mim uma mancha laranja e joga alguns flocos de arroz doce na minha testa. Meu terceiro olho. Fico ali mais algum tempo e tomo pra mim alguns instantes de meditação. Sensações muito boas ali.










Já faz tarde e a fome vem. Como havia visto na incrivel subida de todos aqueles degraus, uma placa escrito Restaurant, não me preocupo e faço mais alguns instantes no cume da montanha. Passo ali mais uma hora e decido comer alguma coisa no tal restaurante. Descubro que o restaurante está fechado e que na verdade existe uma vendinha chamada MAGGI. Sim, aquela marca da galinha. Tem Maggi em tudo quanto é lugar aqui. Mas só tinha sopa, então tomei uma sopa (apimentada) de vegetais extremamente quente numa temperatura de quarenta e poucos graus. Delicia. Depois de uma garrafa de água e algumas uvas (que eu havia trazido comigo) resolvo ir embora. Saio badalando todos os sinos que haviam no caminho e 400 degraus abaixo, chego na motinho. Arrumo as coisas e parto em retorno à Rishikesh. Resolvo tirar algumas fotos do caminho e paro cerca de 1 kilometro do templo. Percebo que a chave do meu cadeado, do quarto, já não está mais no bolso da minha camiseta. Momento de desespero! Viro, reviro, torço e retorço a bolsa. Procuro, mas não vejo a chave. Fico em alguns segundos de dúvida entre voltar para procurar no templo (tendo que subir novamente a escada) ou se deixo as coisas na mão de Jah. Dou uma folga para Haile Selassie e volto ao templo. Subo os primeiros duzentos degraus com um pique impressionante. Quase correndo. Para que os próximos 200 eu suba igual um idoso reumático, porque ali já não tenho mais energia alguma. Não encontro chave nenhuma e também não encontro ninguém que fala ingles, então ao fazer alguns sinais para uma senhora, apontando para a chave da moto, ela toma a chave da minha mão e 'benze' dentro do templo. Pelo menos estou com alguma ajuda para a volta. Lembro de ter parado para beber água numa fonte natural, na ida e resolvo procurar lá novamente. Nada. Estou sem chave e agora com medo de ser punido de alguma forma no ashram.


subindo de novo

Chego em Rishkesh 6pm e vou em busca de comida. Ainda do lado caótico da cidade resolvo procurar algum lugar tranquilo para uma comida diferente da apimentada corriqueira de todos os lugares. Encontro um pequeno bangalo estilo tailandes, tocando trance à todo volume, mas que parece ser bastante calmo. No cardápio muitas opções diferentes das habituais. Peço um hamburger de cogumelos e outro de vegetais. Acompanham algumas batatas fritas. Quase me sinto no Brasil com a culinária, exceto por um iogurt salgado que peço como acompanhamento. Um creme que ensopa uma espécie de miolo de margarida. Uma delicia. 


Faço amizade com o dono do local que me da algumas dicas para visitar cachoeiras e templos por ali. Mas decido voltar e ir à cachoeira que eu já havia ouvido falar. A Magical. Uma cachoeira, que quando chego na entrada, na rodovia, um senhor me informa ter de subir pela trilha cerca de 1 km. Como está tarde, decido continuar viagem pela estrada sem rumo, novamente. 5 km à frente avisto uma placa informando outro templo cerca de 15 km dalí. Da-lhe estradinha adentro e, realmente 15 km depois chego no templo. Um menino com seus 12 anos se joga na frente da moto, me manda parar e diz que tenho que pagar para estacionar. Aciono meu lado estrangeiro e finjo não entender e continuo a rota, estaciono e não pago nada. Um templo bem maior, muito mais imagens e estátuas na sua grandeza de sempre. Indiana. O lugar mais parece um cenário bíblico, de tantas vendinhas com artigos religiosos. Até Shiva de pelúcia tem, precinhos salgadinhos (talvez porque não sou local), mas presentinhos de muito bom gosto. Fico só 30 minutos, tiro algumas poucas fotos devido pouca luz (flash ali não agrada muito os fiéis) e volto pro Ashram.




Chego na recepção e, com cara de triste, aviso o gerente que perdi a chave. Ele me da uma puta bronca, inflando a negligencia, mas envia um funcionário, com uma marreta para destruir o cadeado da porta e me diz que terei que pagar 75 rúpias (u$1,5). Fico aliviado com a multa e fico ali, ao lado do rapaz dando abrutalhadas marretadas no cadeada. Chamo atenção de todo o andar com o barulho e uma pequena criança, russa se aproxima perguntando: "What's happening here???". Com aquele ar de adolescente irritada. Seu nome é Alana. Muito simpática, mas tem uma feição bastante amedrontante. Me sinto num filme do James Bond e serei o próximo da lista, na tortura.
Exausto e feliz por não ter tido nenhum problema com a policia dessa vez (estava sem passaporte, que ficou como garantia na agencia de aluguel da moto e sem nenhum tipo de habilitação) me deito e desligo-me por completo. Amanhã é dia de procurar cachoeiras.
Namaste

Saturday, May 18, 2013

O começo de uma pequena tortura.


16/05/2013

Acordo cedo, como programado. São 05h15, mas não estou me sentindo muito disposto. Decido não fazer a meditação e programo o relógio para 06h30, mas ainda não consigo levantar. Às 10h00 desço para tomar água (estou sem água no quarto e só tem água potável na recepção). Encontro Bem e Kilian perto da cozinha e combinamos de arrumar nossas coisas e partimos para o Beatles Ashram. Resolvemos fazer o desjejum num café chamado last chance, pois não há mais nada antes de terminar a parte urbana da cidade. Escolho um suco de limão com gelo e logo sou instruído por Ben que tomo o suco sem gelo, pois a água que usam para faze-lo não é das melhores. Me sentindo seguro de que não terei problemas, mantenho o pedido. Comemos iogurte com frutas e mel e partimos. Antes de chegarmos a entrada, somos convidados por um baba para fumar com ele (preciso me focar mais, não há centímetro quadrado aqui que não sou chamado para fumar a erva sagrada com esses simpáticos andarilhos religiosos). Fazemos amizade com ele e subimos juntos ao ashram para fazermos um tour com o experiente baba e um amigo dele que estava junto.

Este lugar é incrível, tem uma história mágica lá dentro. Antes de ser um enorme ashram, era uma espécie de escola para crianças com uma infra estrutura de dar inveja a qualquer colégio de renome internacional. Eles tinham mais de 300 vacas para abastecer, com leite, todas as crianças e funcionários do local. São 84 pequenos espaços para meditações individuais, um grande templo de adoração somente a Krishna (o único em Rishikesh) diversos egg houses, que tratam-se de construções em formato de ovo que, quando entramos, temos uma acústica incrível. Infelizmente pela conexão daqui ainda não consegui subir nenhum vídeo para compartilhar, mas farei o mais rápido que puder, assim possível.
Primeiro paramos no grande Yoga hole, para uma pequena meditação e aproveito para praticar um pouco de yoga no sagrado acento de Maharish Mahesh Yogi. Um pequeno quadrado de concreto onde o senhor Maharish se sentava para lecionar ensinamentos de meditação transcendental e yoga. A energia dali foge ao controle das minhas emoções e acabo tendo um pequeno cisco em meus olhos, me fazendo derrubar algumas lágrimas. Após alguns asanas e muita emoção depois, subimos às egg houses para ouvirmos música (um amigo de Benedikt, também alemão e um outro rapaz francês se juntaram a nós no meio do caminho e ele tinha uma caixinha de som com músicas indianas). É sublime, mas logo percebemos que somos em 7 e o espaço, com 45° de temperatura não é a melhor opção para ficarmos todos juntos e, após todos começarem a suar em bicas, resolvemos ir a um lugar mais fresco. Chegamos ao local de meditação individual, são 84 cavernas onde pode-se meditar, praticar yoga ou tirar momentos para leitura. Encontro uma posição confortável, escolho um mudra de concentração e mantenho imóvel por cerca de 3 horas. Nunca cheguei num ponto tão alto de concentração e, dessa vez não tive um segundo de cochilo. Foi muito intenso, cheio de percepções diversas. Cheiros, sons, temperaturas. Eu conseguia ouvir cada conversa paralela entre meus 6 amigos, os ruídos que faziam ao se mexer, os pássaros cantando e até mesmo o vento soprando por entre árvores. Acredito ter encontrado em mim uma boa técnica para concentração.
Macaquinhos sempaticos

Yoga Hole

Egg houses

Novos amigos


Estava muito quente, ainda e resolvemos sair das cavernas. Ben e Kilian já haviam nos deixado para retornar ao Yoga hole, onde estava lá um londrino alto e cheio de dreads enrolados, num penteado bastante desajustado. As pessoas aqui tem um estilo demasiado rústico aqui e se enquadram muito bem a todo o visual do local. Junto dele havia uma americana loira, de vestido branco e uma feição doce, cheia de harmonia. Ela dançava uma dança indiana, conforme o inglês tocava um instrumento chamado Hang. Uma espécie de tambor de ferro com pequenos declives na sua extensão que produzem notas agudas e extremamente ressonantes. Não é um instrumento indiano, mas tem uma sonoridade muito oriental (link do instrumento). Tento tocar um pouco do instrumento e, com bastante delicadeza o rapaz me pede para tocar com mais sutileza, pois se tocar com muita força posso desafinar o tambor, e isso seria uma tragédia, já que não há como ele arrumar.


Nossa programação para ir até as próximas cachoeiras, já está sendo alterada. São 5h30 pm e não há mais tempo para visita-las então decidimos fazer amanhã. Resolvemos, famintos ainda, tomar um banho no Ganga e, dessa vez estou sufocado pelo calor e algo no meu corpo me diz que não estou nas melhores condições. Estamos muito tempo sem comer, tomamos muito sol e agora percebo que talvez deveria ter ouvido o conselho de ben de não tomar o suco de limão com gelo. Tiramos algumas fotos do por do sol e assistimos ao ritual Pooja, que acontece duas vezes ao dia, às margens do rio em frente ao Parmath, agradecendo ao dia, ao sol e brindando a lua que está para chegar.



Voltamos ao Last chance e pedimos, todos um Special Thali, que nada mais é que uma espécie de prato feito com arroz, lentilha cozida que lembra um feijão apimentado e mais ralo, vegetais e legumes refogadas e iogurte. Faço minha primeira visita ao banheiro, me dizendo que não estou bem mesmo. Muita dor de cabeça, dores no corpo e, com um calor que passa os 30°, começo a sentir febre. Em alguns minutos chegam ao restaurante alguns estrangeiros que também estão no mesmo ashram que nós. Ali estão francesas, alemães, uma chilena e uma portuguesa e Christiam, um brasileiro baiano muito simpático. Juntamos nossas mesas e começamos nossa própria babel. Converso sobre vários pontos em comum com Chris que, tem vários planos em comum comigo. Ele esta indo terminar alguns cursos de massagem, reike e outras atividades orientais que permeiam cura e bem estar e tem projetos bastante parecidos comigo. Parece que arrumei um parceiro. Passam mais de 45 minutos e a comida não chega. Como não banheiro no restaurante, volto ao ashram e percebo que, com muita febre e já tendo vomitado pela terceira vez, preciso descansar. Volto ao restaurante, comunico minha ausência e começo minha pior noite em Rishikesh.
Já foram mais de 30 visitas ao toalete e ainda não consigo dormir, muito menos comer ou beber água. Ben havia me trazido uma garrafa com água, mas consigo usá-la somente para me molhar a noite inteira...pernas, braços, cabeça. Está impossível dormir, mas também ficar de pé. Minha cabeça doi muito e decido tomar um paracetamol, que havia comprado em johannesburg. Parece que a medicina ocidental não tem efeito por aqui e meu estomago resolve por o remédio pra fora, novamente.
Meu notebook esta com o teclado quebrado e eu uso um teclado externo, usb, para substitui-lo e agora ele tambem quebrou, extamente agora =(. Tenho de usar o computador do ashram, entao os posts serao em intervalo maior, uma vez que nao posso escrever sem estar logado.
Sao 2h am quando pego no sono, mas ainda nao estou 100% entao o lugar que mais visitei em Rishikesh foi o banheiro do meu andar. Acordo as 08h30 am, como uma melancia inteira (as melancias aqui tem metade do tamanho das brasileiras, mas o mesmo sabor, textura e cor. Apenas sao menores, mas ainda assim grandes e agora parece que estou recuperado. Sao 1h pm e junto dos meus amigos alemaes estamos indo em uma cachoeira cerca de 2 km do beatles ashram. Ate mais
Namaste

Friday, May 17, 2013

Primeiras aulas

Acordo 5h15 am, me alongo e, ainda na cama faço o desjejum como uma pequena mexerica e uma banana quente (que aqueceu o micro-ondas que é meu quarto), me espreguiço na cama mais alguns minutos e até que às desço para a sala de meditação.

                Sant Shree Thari inicia a aula de meditação às 06am batendo num gongo instalado na recepção do ashram, convidando a todos. Somos somente sete e sentamos confortavelmente para a sessão onde, para variar adormeço (nunca consigo terminar uma meditação acordado). Temos 5 minutos para a primeira aula de yoga, chamada yoga made easy. Realmente fácil, são exercícios com pequenos movimentos, para o despertar do corpo, preparando para o dia. Continuando a calmaria, começamos o estudo do Bagva Gita e logo no primeiro capítulo, redescubro que tudo é uma benção. Não acredito em Deuses, mas tenho cada vez mais por certo que tudo vem nessa vida para ser explorado e que só estou aqui hoje, porque tudo na vida tem se mostrado uma benção. Todos os meus erros, meus castigos e falhas, na verdade são somente o caminho para conquistar o que, às vezes nem queria.  Seguindo os capítulos do livro, recebo indiretamente um recado e admito que preciso resolver meus problemas com meu pai. Convenço-me a lhe enviar um e-mail hoje à noite. Sincero e sem mágoas. Se ele foi capaz de se casar com a incrível mulher que é minha mãe e ter tido genes tão bons pra me produzir (modéstia longe) ele merece a chance de retomar seu lugar comigo. Vamos ver no que vai dar. Após algumas importantes verdades ditas na sala, começamos o intenso hatha yoga com um professor pequeno, de fala forte, porém de tom bastante ameno. A principio não tenho muita certeza do poder da aula, mas quando termina, uma hora depois, estou exausto e pedindo água. Termino a aula e venho criar o blog. Já estava com os posts prontos, somente fiz alguns ajustes e agora espero poder fazer a atualização três vezes por semana, com um consolidadão. Almoço e me disparo em direção à cachoeira, que fica 5 km de onde estou. Andando contente e fotografando a arquitetura, sou parado pela primeira vez por policiais. O oficial, em cima da moto grita “Foreigner! Come here” revista minha bolsa e diz para eu tomar cuidado com a câmera, mexe nas minhas coisas e me pergunta se eu bebo álcool, parece de praxe. Continuo a jornada e parece que nunca chega. Para cada pessoa que pergunto, são mais dois kilometros. Já andei 2 horas e ainda nada.

                No meio do caminho avisto um carro abandonado, todo pixado e “roubo” um santinho que há la dento. Meu primeiro souvenir. Continuo andando e, do outro lado do rio vejo pessoas pulando de uma pedra no Ganga. Devem ter uns 8 metros até a água. Tiro algumas fotos e continuo até encontrar a cachoeira. Exausto, começo subir a trilha e em menos de 15 minutos avisto uma vaca, elas estão mesmo por toda a parte. Mas quando estou próximo da primeira queda d’água aviso mais policiais que gritam comigo. “go back, it's not allowed”. Umas 10 pessoas que estavam subindo a trilha começam a descer e descubro, conversando com um dos policiais que houve uma briga com dois bêbados lá em cima e que está proibido subir. Eles parecem tranquilos, mas revistam minhas coisas novamente. Um deles me diz que logo à frente exista outra queda d’água e que preciso subir cerca de 1km pela trilha. Já andei cinco com a mochila cheia de slackline, câmera, água e algumas frutas... continuo subindo. Logo no começo da nova trilha encontro dois indianos que estão papeando, sentados numa pedra e eles me dizem que o caminho é por ali. Um deles pede que eu tire uma foto. )()(
Começo a subir uma trilha íngreme igual a do parque Brasil (se você não conhece esse condomínio não vai entender, mas pense na subida mais chata q você já subiu e encha-a de pedras, areias e árvores caídas no meio, de havaianas, cansado e, agora achando que a trilha não da em lugar nenhum). Um bom tempo depois subindo, e agora sem um dos chinelos, que quebrou e me fez ganhar um belo rasgão no dedão, decido voltar, mas desta vez achando que os caras que haviam me dado a instrução de subir, estão me esperando pra me roubar, guardo chip da câmera, dinheiro e passaporte na cueca e, com uma faquinha de pão desço a trilha na tentativa de parecer o rambo, caso eles queiram me subtrair. Não encontro ninguém lá em baixo e acho que foi só a piadinha da vez. Quando disse que era brasileiro um deles diz “It’s in Europe, right?” e o outro: “No, it’s Colombia”. Acho que eles não fazem ideia do que é Brasil. Finalmente encontro a trilha correta, e com o dedão sangrando, sem um chinelo, avisto uma queda d’água que não se parece muito uma cachoeira, mas ali estão dois rapazes e uma moça, que com certeza não é indiana e decido ficar ali. Tomo meu primeiro banho de cachoeira da Índia, mas em menos de 10 minutos os mesmos policiais que apareceram da outra vez surgem do nada e estão muito putos comigo. Parece que eu só peguei outra trilha pra mesma cachoeira que eles diziam não poder entrar, mas depois da minha explicação e uma nova revista (desta vez eles arrancam a mochila de mim), eles pegam meu saco de frutas e comem tudo, mas não antes de eu tirar uma manga e comer primeiro.


As legitimas

                Sem um chinelo, com o pé machucado e sem frutas, começo a voltar pra casa com a cara de um cachorro sem dono. Mas tudo na vida parece dar um empurrãozinho. Passa por mim um caminhão caçamba com dois rapazes em cima e eles me perguntam se quero carona (óbvio que sim). São alemães (Benedikt e Kilian).
Ben

Kil
 Benedikt está na índia faz um ano e está voltando pra Alemanha depois de seis meses de trabalho social num orfanato ao sul da índia a Kilian veio ‘’buscá-lo’’.  Vão passar mais algumas semanas aqui até voltarem juntos para “European life style” como dizem.  Fiz novos amigos e agora, depois de me queimar no chuveiro, estou descansando na cama, pois estamos sem internet. Amanhã vamos juntos ao Beatles Ashram para tocar violão e talvez, praticar slack no ponto mais alto da cidade. Até mais.

                Namaste.