Da ponte pra cá

Da ponte pra cá

Friday, May 24, 2013

Cachoeirando

19/05/2013



Noite complicada de novo. Parece que meu relógio biológico está me dando uma colher de chá enquanto estou na rua, mas basta chegar no quarto e tentar dormir que começa a febre e volto a ter complicações estomacais/intestinais. Muitas cólicas durante a noite e todo o bololo volta a me torturar. Consigo acordar cedo para o yoga, mas muito fraco. Acho que perdi muito peso, talvez uns 4 ou 5 kilos nítidos. Mas tenho uma manhã tranquila e, como havia comprado uma melancia no dia anterior, e já tinha deixado na geladeira do ashram, mais 2 mangas e está tomado o café da manhã 
São 11am e chego na Magical. Cachoeira que, como o nome sugere, tem uma visão deslumbrante. São várias pequenas quedas, muito altas, dando tons a vários mini-arco-íris em meio a muita mata, muito verde. O eco-sistema ali é muito vivo e muitas plantas se acumulam por muitas rochas, que aparentam milhares de anos ali. Lindo demais. Fico ali duas horas até chegar um casal de alemães que também estão hospedados no mesmo lugar que eu. Já estou saindo e Hegel, me diz que ali ainda tem um 'segundo andar' para ser visitado. Um mezanino de pedra que forma uma poça pequena de água da o toque de espaço para meditação. É tudo muito mágico, mesmo. Me sinto numa mistura de 'Senhor dos anéis' com 'Avatar'. Mas decidido a procurar uma cachoeira maior, onde eu possa nadar, vou embora de lá e vou almoçar no mesmo lugar da janta de ontem.





Já por volta das 2 pm como uma salada e Veg Kafta. Bolinhos fritos, imersos num molho delicioso, que não sei explicar ainda qual gosto tem. Não entendo muito bem do que é feito, mas ainda assim é delicioso. O dono do local me diz para seguir mais 2 km até o próximo vilarejo que verei a entrada da cachoeira. Desta vex administrada pelo governo e preciso pagar 30 rúpias para acessá-la. Existe uma 'estradinha' que posso subir de scooter. Apenas 1 km subindo já encontro a entrada. Mas decido subir ainda mais. É uma grande montanha e como todas montanhas aqui, parece não ter fim. Já estou acelerando 30 minutos e não chego a lugar nenhum. Mas tenho que subir com muita prudencia, pois ali não há muita segurança nem uma estrada transitável confiável. Muitas pedras no caminho me fazem crer que ali não tem civilização. Ledo engano. A cada 5 minutos de subida encontro uma pequena casinha e pessoas subindo a pé, carregando água ou pedras, areia. Acho que ali está crescendo uma nova comunidade.
Encontro um cachorro no caminho, que parece cansado, com a língua pra fora. Resolvo me aproximar e fazer amizade. Percebo nele uma infinidade de carrapatos no pobre coitado e, tento tirar alguns maiores em lugares que parecem estar atrapalhando mais, como na boca, olho e orelha. Com a mesma vontade de aniquilar carrapatos que existe na minha mãe, tiro um do ouvido do cão e esmago com uma pedra. Todo o sangue do nojentão voa diretamente no meu olho. Mas como se ele tivesse preparado para morrer me atacando. Um carrapato kamikazi, mas sem o suicídio. Acho que ele está rindo além túmulo. Desesperado e com o olho cheio de sangue dou uma bela cusparada na minha mão para lavar o sangue. Olho no espelho retrovisor da scooter e estou parecendo um hemorrágico. Tirando a cena thriller, fecho o olho e sigo retornando à cachoeira para lavar aquela nojeira. Encontro antes uma saída de água de uma rocha, me lavo e acaba-se o problema.

São 3h30 e encontro a primeira queda d'água. São várias, na verdade. Pequenas quedas que formam diversas poças para banho. Todas estratégicamente controladas com alguns sacos de areia para não dar vasão total à água levando todo mundo morro abaixo. Fico ali alguns minutos e percebo que ainda existe outro lugar para visitar, já que vejo umas 10 ou 15 pessoas voltando de uma parte mais alta. Existe ainda uma escada para subir (mais 500m conforme a placa) e resolvo subir. No caminho encontro um visitante estrangeiro que me informa haver outro pequeno lago mais acima e que, se eu escalar uma pequena rocha encontrarei uma piscina natural. Fato. Existe uma queda ainda mais acima que torna o passeio mais válido ainda. Quando acho estar sozinho e penso em relaxar para tentar uma meditação ou somente ficar observando a água caindo, aparece um menino com seus 8 anos, gritando. Com uma garrafa de coca-cola na mão ele anuncia: ''Just one, please!?'' Tomo um susto e escorrego, caindo na piscina. Ainda bem que ali havia só água. Muita insistencia e depois de ouvir vários nãos, o menino desce, mas com olhar de que me espera lá embaixo pra alguma nova oferta. Resolvo ceder e aceito um miojo feito na hora (Maggi). Antes de descer, já bastante cansado do sol intenso e da mochila (sempre pesada), desço com menos atenção e, logo que a alça da bolsa arrebenta, escorrego e saio da piscina de bunda pela rocha. Algumas escoriações novas e aquela cara de quem não está com dor, como meu miojo quietinho e sentado no sol. As crianças ao redor não param de me rodear, gritando e tentando vender-me snacks e refrigerante a todo custo. Compro um biscoito de chocolate e distribuo entre os garotos que, agora pedem para tirar fotos.





Volto ao restaurante bangalo e dessa vez peço um pequeno prato que não sei muito bem o que é, mas também não é nada demais. Chegam ali 7 homens, que se apresentam pra mim com bastante alegria.O dono do lugar me pergunta: "Chilian?" Algo como "Fuma um com a gente?". Respondo que não, mas que não me importo se eles fumarem ali.Um deles veste uma camiseta do Che Guevara, mas acho que ele não sabe quem é. Ele não fala ingles então não damos muita enfase na camiseta. Eles pedem que eu me dirija até o fim da loja, se amontoam uns no outro. Um deles chega a jogar sua perna sobre a minha e descansa com muita naturalidade. Aqui é muito comum haver bastante carinho entre os homens. Talvez pela supreção machista e não haver muitos homens conversando com mulheres, eles trocam carinhos e afetos (de maneira sempre muito amigável e às vezes até infantil) entre homens. É bem normal e fico feliz pois me comunico com meus amigos dessa forma (aliás um beijo grande pro Wills, Giuli, Bruxão, Cavete, Serj, Monminha, Sunguera, James, Diego e John...saudades). Eles preparam o cachimbo com Haxixe do Nepal e começam a fumar. Toda aquela fumaça toma o lugar e depois de muito insistirem, aceito dar um pega. Nunca me senti daquela forma. A famosa 'paulada' que achei já ter levado algum dia é superada em milhões de vezes e acredito que vou passar mal. Saio de mim, sinto-me num transe. A sensação é de que estou tirando pedaços do corpo. Me desfazendo começando pela cabeça. A brisa é rápida. Cerca de 10 minutos depois do único trago já me sinto melhor. Foi uma brisa ruim. Senti medo e um pouco eufórico. Talvez porque estou sem fumar faz tempo ou porque estava cansado e ainda não melhorei da barriga, não sei. Mas decido ali que não vou mais abrir mão da decisão de ficar clean o tempo todo aqui.

Já são 9pm e me lembro que precisava ter devolvido a scooter até às 7pm. Terei de pagar nova diária, então resolvo ficar com a moto mais um dia. Dessa vez combino com Cátia, Hegel e Shiring (meus amigos do ashram) de ir até a cachoeira pela manhã para aproveitarmos melhor o tempo.
Hoje durmo mais cedo e levanto mais cedo pela manhã. Acordo ainda atordoado da noite anterior. Uma ressaca de fumo. Meu corpo ainda é fraco e não pratico ioga novamente. Fazemos o desjejum no mesmo restaurante e ficamos na cachoeira até 4pm. Me sinto mal novamente e decido dormir até 6pm para devolver a moto. Hegel me acompanha com sua scooter até a agencia para devolver a moto e, após uma pequena discussão com o rapaz da loja (que queria me converser que eu não havia pago a primeira diária) volto ao ashram para dormir até o dia seguinte e tirar o dia de folga para tentar, por vez ficar bom do corpo. Ledo engano.
Namaste

2 comments:

  1. que cachoeira deliciosa, fiquei com inveja :P
    linda a foto dos meninos.
    muito engraçado venderem Maggi aí.
    Índia e suas peculiaridades.

    bjs brasileiros.
    A.

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  2. Haxixe do Nepal, paulada master!

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