Da ponte pra cá

Da ponte pra cá

Wednesday, November 27, 2013

Odisséia no Nepal - Parte 1

27/11/2013


Os fatos aqui apresentados não fazem, ou fazem parte de uma ordem cronológica. Qualquer semelhancia com a realidade é mera ilusão.



-Olá você da internet. Que saudade, não é mesmo?!
-Não.



                Pois é, jovens... Estou por aqui novamente, depois de tanto tempo, e já vou logo fazer o que eu quiser de novo... Antes de começar a ler, ficaria feliz se você colocasse a trilha sonora que eu estou ouvindo agora, pra sentir melhor minhas palavras (hahaha...ai ai).

Clique nos links abaixo:
1Porque é proibido pisar na grama?
2Lá de longe
3Mentira

*Não sei fazer uma playlist decente, então vai com link do youtube mesmo.

Pois bem, aconteceram séries de fatos incríveis desde que eu me desliguei do blog. Rolou meditação, expulsão do centro de meditação, flagrante dos gambé, álcool depois de três meses, coincidências (logo mais veremos que elas não existem, porém usemos este termo, por hora), trance (musica), musica, virei músico, música.




Começou tudo quando sai de Rishikesh em agosto. O destino era Nepal (sim, o país... a ideia de renovar o visto e passar uns 15 dias no Nepal, não me fez achar necessário pesquisar aonde ir) e a cidade “escolhida” como primeira estada seria Mahendra Nagar. Foi o caminho mais fácil e barato, saindo da Índia pela cidade Banbasa (Nordeste da Índia e Noroeste do Nepal).

Vilarejo de Mahendranagar

Logo de cara já comecei a ser tratado com um bom turista que sou.
Mas antes tenho de deixar claro uma coisa. Chuva! A minha relação com esse fenômeno da natureza sempre foi algo peculiar. Ainda que acabei escrevendo uma música tempos atrás que tem um verso que diz “Repara no dia do mal humor. O que vem no próximo dia é notícia.” O mal humor é de se interpretar, ok? Ok! Foram as águas de maio daí, as de junho daqui e as de sempre do todo.

Assim que eu cruzei a borda da Índia, foi como uma zuerinha de leve. Garoinha fina só pra despertar aquele menino maroto, que quase conseguiu dormir no busão, nas 14 horas de viagem. Entre explorar o cavalo do moço pra me levar até o Nepal (o ônibus para no vilarejo mais próximo da borda, porém para atravessar o país você vai precisar rodar uns 5 km por conta. Você pode escolher um Rikshaw que nem esse da foto ou ir a pé... NÃO ANDE DE CARROÇA!), resolvi explorar um senhorzinho que se enfileirava entre a porção de “taxi drivers” que tentavam minha atenção. Ele não falava inglês, mas sabia exatamente onde me levar. Ali você não vai fazer muita coisa, pois não há turismo, mas se fizer esse trajeto um dia e quiser fazer um tour antes de cruzar a borda, eu recomendo. O lugar é incrivelmente lindo. Você cruza as fronteiras por um rio chamado Mahakali, que tem 350 km de comprimento e tem uma correnteza impressionantemente forte. Ele é um dos rios que abastece o Ganga.

Antigo curso do Rio Mahakali


Depois de aplicar e retirar o visto (sai na hora, eu nem tinha foto e me deram o visto e ainda trocaram meu dinheiro pela moeda local), peguei outro Rikhshaw que me levou ao centro da cidade para que eu fosse a um hotel descansar um dia e planejar o que fazer com meus 30 dias de visto e Us$ 100 no bolso. O “piloto” da caranga me levou pra dois lugares mega hotel de posto no brasil. Daqueles que 20 reais é abuso. Mas por aqui seus 20 contos lhe garantem pelo menos dois dias de hospedagem e ainda uma comida razoável. Depois de instalado, procurei o piloto pra que ele me desse uma luz sobre o que fazer por ali. - Haxixe?; Ele me perguntou. Bom, a partir daqui as coisas mudaram de figura no meu plano (que alias não existia). Fiquei na cidade por mais dois dias e acabei fazendo amizade com o piloto. Ele me levou até o antigo curso do rio Mahakali. Aqui eles desviam curso demais, todo lugar que você roda por aqui tem rio seco. Saindo do rio que fomos, depois de andar por horas na floresta, por que meu guia havia se perdido, fomos até sua casa, que era no caminho. Ele me apresentou a toda sua família e ganhei uma flor linda, que ele tirou do jardim pra me receber. Fizemos um tour pela cidade que já começava me mostrar indícios do incrível país que eu viria conhecer em breve.


Piloto gente boa

Pilotos de Rikishaw monstrando abilidade em fazer haxixe na hora

No mesmo dia, peguei o ônibus com destino a Bárdia, o mais largo parque nacional do Nepal. São 968 km² de verde, mais de 400 espécies de pássaros, tigres, rinocerontes, uma imensa fauna e flora de tirar o folego. Cheguei à cidade por volta das duas da manhã na cidade e, é claro que estava tudo fechado. Na verdade existe uma cidadezinha de entrada antes de Bárdia, chamada Ambasa. Bárdia fica 18 km afastados da estrada. Você precisa acessar por Ambasa, onde existe uma barreira militar (Tem mais barreira militar e policia nas ruas e estradas do Nepal que pastel, na feira de SP). Mas é claro que eu só viria a descobrir isso da maneira mais caótica. Porém isso é pra depois.

Indo para Bardia com um sadhu

Depois de acordar a pobre senhora que morava no restaurante, consegui um lugar para dormir até a próxima manhã. Cedinho fui providenciar minha visita parque e negociar meu safari com o guia. Depois de conversar com um cara chamado Krshna, cheguei à cidade e me instalei no resort, e depois de muitas ideias trocadas, consegui me hospedagem, comida por 2 dias e mais o safari por pouco mais Us$ 30. Fizemos o safari a pé, claro e foi maravilhoso. O parque é realmente selvagem e, apesar das trilhas e da “segurança” do guia, que era mais magrinho que eu (possivelmente corre mais que eu, também), cruzamos com um veado morto no meio do caminho, certamente por um tigre faminto. Ai fiquei gelado, mas depois passou. Ficamos cerca de 8 horas na selva. Achamos alguns pontos para tentar ver algum tigre, agosto e setembro não são os melhores meses, por conta da temporada de chuvas aqui. Segundo os locais a temporada mesmo começa no começo do ano, onde o mato já morreu e a savana começa tomar conta de vários espaços na floresta, como próximas ao rio Karnali. Tigres à parte, vi de perto (e abracei)  o primeiro elefante da minha vida (zoológicos não contei). Foi uma experiência incrível, um cisco até caiu nos olhos, na hora... Nos dois, juro.


Cheguei
Quartinho que dormi quando cheguei em Bardia, de madrugada

Resort Jungle view


Bangalos do resort
Parque Nacional






Eu e o papa capim


Rinoceronte cego que vive em cativeiro =(






Meu quartinho no resort

Dia seguinte do safari ainda fiz um tour conta própria pelo vilarejo local e um menino de seus 12 anos resolveu trocar comigo um pedação de haxixe por um colar que eu usava. Ele me abordou no caminho e me chamou até sua casa para conhecer seu pai... chegando lá vi esse tiozinho com diversos anos nas costas sentado no jardim. Ele me oferece água e o menino entra em sua casa. Quando ele volta tenta me vender e, como eu não quis comprar ele pediu o colar, mesmo. Mais andadas sem destino trombei uma senhora que me olhava e ria. Indignada ela apontava para meu piercing no nariz e dizia “Nepal lady!!!” e ria...ah! Como ria, a velha. Depois de ser chacota da vila toda (agora não só a tiazinha, mas todas as crianças e um homem que teve a coragem de me perguntar se eu queria ser uma nepalesa.) ainda tive a oportunidade de passar vergonha jogando futebol com uma rapaziada que batia uma bola no campinho da vila. Voltei ao resort pra descansar e acordar cedo dia seguinte que eu estava pensando em seguir viagem. Dá-lhe chuva!


Meliante juvenil

Krshna me deu umas boas dicas de lugares pra visitar, como Lumbini e Pokhara. Como Lumbini estava mais perto que Pokhara, foi a decisão mais óbvia a se fazer. 
Boi da cara preta

Crianças adoráveis
Nove horas de viagem e ali estava eu em Baira Hawa. Cidade entrada para Lumbini, que fica 22 km de distancia. Você pode tomar um ônibus local que vai te custar menos de um real ou pode ser explorado pelos taxistas, se preferir.
Ainda me adaptando ao inglês asiático, ainda que já estivesse três meses na índia, tentava me comunicar com o guarda do complexo de templos (Lumbini é a cidade natal de Buda. Após muitos anos abandonado, um antigo rei do Nepal resolveu redescobri o local, transformando-o no patrimônio que é hoje, inclusive assegurado pela UNESCO (grandes bosta)) me aparece o primeiro anjo no caminho. Vivian. Uma Israelense que morou maior parte da vida na Espanha. Ela me viu tentando, sem sucesso conseguir informação sobre hospedagem barata na cidade e veio conversar em espanhol comigo. Sabe-se lá por que. Ela havia chegado no mesmo dia e estava voltando ao complexo de templos. Disse-me que estava hospedada em um templo de freiras e que talvez eu também pudesse ficar por lá. Sem custo, apenas uma doação ao templo quando eu saísse. Foi Vivian que me apresentou a meditação Vipassana, ao qual irei me referir no próximo post dessa trilogia (que não está limitada apenas a três posts, que fique claro). Fiquei três dias no templo e depois me inscrevi no centro de Vipassana. A meditação começaria em três dias e eu não podia mais ficar no templo porque haveria uma excursão de indianos chegando ao templo e eles usariam todos os dormitórios. Após uma conversa de sorte com um dos funcionários do Centro, consegui hospedagem até o inicio do curso de graça também. Depois descobri que não era permitido que isso ocorresse, mas ai já estava lá e ninguém me tirou.

Dormitório no templo de freiras em Lumbini.

Vaquinha tortinha.
Jardim do templo.
cadam, .frutinha que nasce em tudo quanto é canto em Lumbini. Delicia!
Templo tailandes.
Por que, minha gente?



A meditação estava a poucos dias de começar. 11 dias de curso, 10 horas de meditação por dia, pequenos intervalos para dormir, comer ou andar. Meu momento de descobrimento pessoal, daquilo que eu viria entender depois, ser eu. E daquilo que eu viria desentender, ser eu.

Música, yoga, medo, relacionamento, intrigas e muito mais no próximo post. Não perca!




Lago de Lumbini

Fico feliz que você veio me visitar novamente. Fique ligado, em breve muitas outras peripécias do amigo viajante aqui. Até a próxima, pessoal.
Namaste.